Doutor em Educação Física, na área de Atividade Física Adaptada e mestre em Ciência da Motricidade Humana, Cláudio Diehl Nogueira é professor do curso de Educação Física da Universidade Castelo desde 1998. E Cláudio também trabalha com a classificação funcional, uma ferramenta utilizada “para agrupar atletas que tenham um perfil funcional semelhante, tornando a competição mais justa e com maior equidade possível”.
O Portal UCB conversou com o professor sobre sua carreira e atuação no Movimento Paralímpico, que atualmente é membro do Grupo de Pesquisa em Avaliação Motora Adaptada – GEPAMA/UNICAMP/SP, classificador Funcional da CPISRA, da IFCPF, da BISFeD e da ANDE, na área da paralisia cerebral, membro do Grupo de Estudos em Esportes para Pessoas com Paralisia Cerebral da UNICAMP/SP, e membro do Grupo Multicentro de Pesquisa em Avaliação Funcional de Pessoas com Lesão Medular e Lesão de Neurônio Superior
UCB: Como conheceu o Paradesporto?
Professor: Durante o mestrado que realizei na UCB, antes de ser contratado em 1998, conheci o professor Ivaldo Brandão Vieira, meu colega de mestrado e já professor da UCB nas disciplinas Atletismo e Educação Física Adaptada. Prof. Brandão era o Diretor Técnico da ANDE (Associação Nacional de Desporto para Deficientes) e sempre comentava do seu trabalho. Bem mais tarde, eu já era professor da UCB, em 2001, o Prof. Brandão me convidou para assistir a uma competição de Bocha Adaptada, o que não me interessou de momento. No entanto, após muita insistência do Prof. Brandão, resolvi aceitar, pois me relatou que havia uma área no Paradesporto que se relacionava muito com os princípios da avaliação do atleta, área que sempre me interessei, desde a época de monitoria junto ao Dr. José Rizzo Pinto, ainda como aluno da UCB. Chegando na competição, o Prof. Brandão começou a me mostrar como era feita esta avaliação, que chamamos de Classificação Funcional. Fiquei muito interessado e frustrado, pois descobri que não conhecia nada sobre esta área, então resolvi estudar e acabei me tornando Classificador Funcional, assim como o Prof. Brandão.
UCB: E como ingressou no Movimento Paradesporto?
Professor: A minha entrada no Movimento Paralímpico (Paradesporto) se deu em função do meu estudo na área da classificação funcional. Após alguns estudos e práticas aqui no Brasil, eu, o Prof. Brandão e um outro colega, um médico neurocirurgião, Dr. Agnaldo Bertucci, resolvemos fazer o curso de classificador internacional, em 2002, na área em que a ANDE atua, ou seja, com atletas com paralisia cerebral. Após a aprovação, comecei a realizar classificações funcionais em atletas de todo o mundo, sendo convocado pela Federação Internacional para realizá-las em diversas competições internacionais, incluindo as Paralimpíadas de Atenas 2004, Pequim 2008, Londres 2012 e Rio 2016, quando nesta última, atuei junto ao Comitê Paralímpico Brasileiro no apoio às demandas de classificação apenas dos atletas brasileiros. No entanto, mais recentemente, venho me dedicando à pesquisa da classificação funcional, criando e ajudando a validação científica de métodos avaliativos mais adequados às demandas físicas e esportivas deste grupo de atletas, servindo inclusive como modelo para a minha Tese de Doutorado em 2018. No entanto, não me afastei da classificação funcional e continuo atuando nesta área, nacional e internacionalmente.
UCB: A sua área é a classificação funcional. Como funciona?
Professor: A ideia da classificação funcional é juntar na mesma classe funcional atletas que, ao competirem, estejam próximos de suas características patológicas, físicas e motoras. Exemplificando, se juntássemos na mesma classe funcional um atleta com paralisia cerebral que é usuário de cadeira de rodas e outro atleta, também com paralisia cerebral que consegue usar suas pernas de forma muito parecida com a normalidade, um venceria o outro por causa da sua condição clínica e não porque é o atleta mais capaz sob o ponto de vista esportivo. A classificação funcional se utiliza de testes clínicos, físicos e motores baseados em um perfil pré-estabelecido pela modalidade paradesportiva para determinar em que nível (classe funcional) o atleta pode competir, ou até mesmo se ele não pode competir. Como podemos notar, é uma área de muito debate dentro do Paradesporto.
UCB: Na graduação de Educação Física, o aluno já tem contato com o paradesporto? O senhor acha que precisa ser mais difundido nos cursos do Brasil?
Professor: Na UCB, quando em 2004 fizemos uma mudança na Matriz Curricular do nosso curso, sugeri a inclusão de uma disciplina chamada Desporto Adaptado, dentro da grade curricular do Bacharelado. Ela foi aceita e desde então essa temática tem sido apresentada para nossos alunos. Mais recentemente, houve a unificação entre Educação Física Adaptada e Desporto Adaptado, fazendo com que este conteúdo se tornasse uma unidade a ser estudada. Por muito tempo, o Rio de Janeiro tem dificuldades em ter locais apropriados para a prática do Paradesporto, limitando em muito a possibilidade de competições em nossa cidade, o que dificulta com que nossos alunos tenham mais contato direto com o Paradesporto. No entanto há boas expectativas de uso do material esportivo deixado na cidade, como as Arenas Cariocas, para o futuro, o que traria um benefício para nossos alunos estarem envolvidos nestes eventos e aprendendo a prática do conhecimento.
O Paradesporto cresceu muito em nosso país em função de algumas políticas públicas tomadas no sentido de aumentar o investimento e na exposição midiática dos nossos atletas. Além disso, a Rio 2016 mostrou ao povo brasileiro a capacidade dos nossos atletas paraolímpicos. Em relação aos cursos no Brasil, já existe uma rede muito grande de opções, tanto para especialização quanto para mestrado e doutorado. O que falta realmente é que essa área de especialização chegue nos bancos acadêmicos, e o aluno possa se interessar pelo assunto ainda na faculdade.
UCB: Qual conselho o senhor daria para aquele aluno que se interessa por essa área?
Professor: Com certeza, se especializar. Conhecer o significado real do que é ser uma pessoa com deficiência, conhecer sob o ponto de vista da fisiologia, anatomia, psicologia, pedagogia as dificuldades pessoais de cada um e as soluções que a atividade física pode trazer para esta pessoa. Depois disso, se envolver em um esporte adaptado, conhecer as suas regras e principalmente quais as possibilidades de atuação nesse esporte (classificação funcional, treinamento, gestão esportiva e tanto outras áreas possíveis). Existe uma carência muito grande de pessoal capacitado para atuar nesta área. Mas devo alertar, que em termos financeiro, nem se compara com o esporte de alto rendimento convencional, com algumas exceções. No entanto é uma área que cresce e se profissionaliza cada vez mais e de forma muito rápida.
UCB: O senhor estará presente nas próximas Paralimpíadas (previstas para agosto de 2021)?
Professor: Infelizmente não estarei nas Paralimpíadas de Tóquio. O Comitê Paralímpico Internacional decidiu, ao final das Paralimpíadas Rio 2016, que nenhum atleta durante os Jogos Paralimpíacos passaria pelo processo de classificação funcional. Isso quer dizer que todos os atletas já devem ter uma classificação funcional definida antes do início dos Jogos, o que fez com que a demanda de classificações em outras competições internacionais aumentasse.
UCB: Quais são as expectativas para o desempenho do Brasil?
Professor: As expectativas sobre o Brasil são sempre muito boas. O Brasil está entre as sete/oito maiores potências do Paradesporto mundial, temos excelentes atletas e um corpo técnico muito bom. No entanto, devido à pandemia, que causou alterações significativas na programação de treinos de todos os países, os resultados podem sofrer algumas surpresas. Mas estamos na torcida para resultados excelentes.
O professor Cláudio Diehl atualmente ministra quatro disciplinas no curso de Educação Física da UCB: Medida e Avaliação em Educação Física (desde 1998), Educação Física Adaptada (desde 2002), Estágio Supervisionado, Desporto de Quadra II e Primeiros Socorros.